terça-feira, 17 de julho de 2012

“As Fadas Americanas: frank capra, dustin hoffman e o cinema da década de 70”


Antes de desejar ser atriz, eu queria ser socióloga ou médica veterinária. Mas eu descobri a “arte de atuar”, e atuar é e tem sido uma experiência física e espiritual muito forte e necessária em minha vida. Não acredito que seja necessário ser um artista para entender isto. Porque a arte sempre faz o indivíduo ver a sí próprio, enxergar e refletir os pontos obscuros da condição humana. A “expressão artistica” nos proporciona muitas vezes experiências de transformação profundas. Assistimos a um filme, a uma peça de teatro, lemos um romance e de repente, desejamos mudar ou fazer algo significativo em nossas vidas ou no mundo.
Eu vejo e sinto o “cinema” como uma grande arte de transformação que nos faz analizar, observar e discutir os comportamentos humanos. E eu cresci acreditando nisto, por causa de “três fadas americanas”. E foram estas três fadas que me fisgaram para a arte da representação e plantaram dentro de mim a vontade de ser atriz.
Frank Capra
Eu sempre acreditei no lado espiritual da vida. Em uma força superior que nos faz acreditar que estamos aqui por algum motivo. E que nos move e nos orienta em uma determinada direção por alguma coisa maior do que nós mesmos e que às vezes nem compreendemos o motivo. E os filmes de Frank Capra sempre tiveram essa “aura de espiritualidade”. O dom, o poder mágico de fazer as pessoas acreditarem que podiam mudar a sua vida a partir de dentro. Que tendo , esperança e amor a jornada na terra seria menos dolorosa e difícil. É isso o que ensinam seus personagens humanistas. Se não conseguimos aprender a superar as adversidades da vida, podemos ao menos tentar suportá-las e lidar com elas.
Seus filmes sempre me emocionaram.  Sempre me tocaram e me modificaram de alguma maneira “interiormente”.
Até hoje, sua filmografia me faz acreditar no “espírito humano”. 

A predisposição que todos temos para acreditar que a bondade, a felicidade,  e as boas intenções que enchem o mundo está nas pessoas. "Que somos nós que fazemos o mundo um lugar melhor e especial para se viver". É acreditar na nossa capacidade de perseverança e resistência frente ás dificuldades do mundo, para continuarmos a jornada, independente dos resultados serem alcançados ou não. Os personagens dos filmes de Frank Capra ensinam que se “as pessoas manterem retidão e firmeza de caráter poderão vencer todos os obstáculos pela simples força de seus sentimentos e valores”. É esta a mensagem de seus filmes.
A felicidade neste mundo está nas coisas pequenas, simples e tolas. Precisamos aprender a ver, sentir, compreender, respeitar e tratar melhor nossos semelhantes e o mundo do qual fazemos parte. Porque sem esta atitude e compreensão não faz sentido a nossa "curta jornada de vida" neste planeta.








Acredito que o cineasta Frank Capra é e continuará sendo um grande diretor e realizador humanista, porque ele fazia filmes com a intenção de enaltecer e mostrar o que o ser humano tinha de melhor como pessoa. Eu amo seus filmes. E posso afirmar que eles mudaram o rumo de minha vida.
Dustin Hoffman

Na atualidade, eu admiro o trabalho de muitos artistas talentosos. Atores e atrizes que atuando no palco, no cinema e na televisão, me passam mensagens otimistas sobre a vida, sobre a natureza humana e sobre espiritualidade neste mundo. 

 Eu admiro, gosto, respeito e reverencio o trabalho artístico de muita gente talentosa como cillian murthy, catalina sandino moreno, jamil debbouze, vincent kartheiser, gabourey sidibe, terence howard, arta dobroshi,  fairuza balk,  jeremie renier, audrey tautou, sandra corveloni, alice braga, selton melo, caio blat, gabriela duarte, maria luisa mendonça, ricardo darín, daniel bruhl, sami bouajila, marion cotillard, charlotte gainsbourg, leonor watling,  jamie bell, emile hirsch,  james franco, rachel macadams, kristin scott thomas,stephen rea, shoreh aghdashloo, mélanie laurent, mathieu kassovitz, josh lucas, naomi watts e guy pearce. 

Mas se eu tiver que citar o nome de um ator cujo trabalho e conjunto da obra,  cuja contribuição artística eu admiro demais, e que sempre me inspirou e me influenciou na profissão de atriz, só posso citar o de Dustin Hoffman.
Dustin Hoffman sempre representou para mim o modelo de artista, no qual um ator e uma atriz tem de se inspirar e se espelhar para se tornar conhecido e respeitado no meio artístico. E também trabalhar com disciplina, dedicação e motivação para crescer e ser bem sucedido.
Um ator com imenso alcance, que consegue com um simples olhar ou uma expressão corporal passar naturalidade, honestidade e humanidade nos papéis que interpreta. Ele tem o dom raro de disfarçar a arte da representação.




Nunca vejo o ator, vejo sempre o ser humano que ele interpreta.Acho que é porque ele deve pertencer a esta classe de atores especiais que encaram cada papel, personagem como uma jornada espiritual. Ele se prepara e se entrega a jornada de cada ser humano que deve personificar. Ele não se esconde atrás do personagem. Seus personagens são sempre  tridimensionais porque ele consegue em cada situação imprimir sua marca e versatilidade de ator de teatro. Além da dimensão interna que ele dá aos seus personagens é incrível a construção externa, o visual realista que ele constrói para os seus papéis.

Eu sou fã e grande admiradora de seu trabalho desde meados da década de 80.  Por causa das reprises televisivas, assisti algumas de suas atuações mais viscerais e marcantes em filmes como: a primeira noite de um homem (1967), midnight cowboy - perdidos na noite (1969),  pequeno grande homem (1970), papillon (1973), lenny (1974), a maratona da morte (1976), liberdade condicional (1978), kramer vs kramer (1979), tootsie (1982), morte do caixeiro viajante (1985), ishtar (1987), rain man (1988), negócios em família (1989).

Hoje, graças a era do digital posso rever estes seus trabalhos e atuações  soberbas. E rever ainda outras ótimas atuações em filmes como dick tracy (1990), billy bathgate (1991), herói por acidente (1991),  epidemia (1995), american bufalo (1996), mera coincidência (1997), o quarto poder (1997), esfera (1998), quero ser jonh malcovich (1999), matemática do diabo (1999), joana darc (1999), vida que segue (2002), o juri (2003), huckbees (2004), confidence o golpe perfeito (2004), em busca da terra do nunca (2005), a cidade perdida (2005), perfume a história de um assassino (2006), mais estranho que a ficção (2006),  o amor não tira férias (2006), a loja mágica de brinquedos (2007), tinha de ser você (2008), a minha versão do amor (2010).









Considero Dustin Hoffman uma referência artística. Um ator, intérprete, artista completo e magnifíco porque ele está sempre desafiando os seus papéis e a si mesmo, e os explorando para buscar sua essência e humanidade.








O cinema da década de 70

Eu amadureci tendo contato com o melhor cinema que foi em minha opinião, o cinema realizado na década de 1970, e mais tarde o da década de 1980. Foi uma época marcada por um cinema de muita criatividade e caráter político. Foram realizados e produzidos filmes engajados e com fortes teores éticos, políticos e morais. Os filmes realizados entre 1970 e 1979 tinham uma atitude crítica que já vinha da década anterior.  A década de 60 se caracterizou por ser uma época de muita agitação, esperança  e inovação nas formas de se fazer luta política.  A cultura jovem dos anos 60 contestava e se opunha a tudo que limitava a liberdade de expressão e manifestação das pessoas.

A década de 1970 representou uma redefinição de valores sociais, morais e culturais em todo o mundo. E o cinema com os filmes que foram realizados entre 70 e 79, estimulou e fortaleceu a noção de cidadania, liberdade de expressão, liberdade de criação, ética e respeito no mundo.
Uma geração de jovens cineastas que saiu das universidades de cinema nos Estados Unidos, investiram toda a sua energia, know-how e criatividade em um novo discurso de crítica social, que até aquele momento não era permitido pela indústria de cinema. Sendo um cinema autoral, no qual os diretores tinham o controle absoluto de sua obra, com liberdade artística realizaram filmes com o compromisso de “retratar a realidade e dar respostas a questões urgentes que incomodavam a sociedade”.  Eu me lembro de ter assistido filmes que colocavam questões delicadas sobre a intolerância racial, o papel da mulher na sociedade, a alienação social, racismo, paranóia, conformismo, inclusão social, luta de classes, guerras, o medo e a violência urbana, as politícas do governo americano, criminalidade e a máfia.
A década de 70 mostrou que se fazia arte com a intenção de se dizer algo, alguma coisa. Não era só o entretenimento que contava. Não adiantava o trabalho ser só interessante e divertir. Também tinha de dízer e ensinar alguma coisa. Mas sem forçar o público, deixar a audiência decidir como se sentir a respeito do que era tratado nos filmes. Nada de doutrinação. Porque isto não existe em arte. Ao nível da experiência coletiva, a década de 70 foi muito importante, porque mostrou que era possível uma nova maneira de pensar, um modo diferente de se relacionar com o mundo e as pessoas.



















Vivemos em um mundo em que é difícil superar as pressões da “sociedade materialista e de consumo”. Porque ela nos induz por meio da publicidade, da moda e de comportamentos, a desejarmos e possuirmos muitas vezes o que não necessitamos. É uma época de materialismo feroz, porque só há dispêndio de energia em se ter, consumir, obter e usufruir tudo o que possa satisfazer os caprichos de diversão, conforto e bem-estar do ser humano.
Nesta época conturbada é preciso equilibrar as forças materiais com as espirituais. E as artes, principalmente “o cinema” com sua linguagem universal que fortalece a cidadania e a conscientização social das pessoas, tem conseguido aglutinar esforços para promover a tolerância, a paz e a solidariedade no mundo.
Por causa destes três motivos, os nomeio de “fadas americanas” abracei definitivamente a profissão de atriz”. Por acreditar que a “arte” tem o poder de informar e instruir. Porque a arte reproduzindo a vida para ser sentida, entendida e julgada em termos afetivos e psicológicos, pode mudar e criar valores morais e culturais positivos na sociedade. 

A profissão de ator é maravilhosa. Ela dá conhecimento, acrescenta vivências e maturidade. Se fora da arte o ator vive a sua vida como uma pessoa comum, dentro da profissão artística ele aceitou um novo modo de vida. E dentro deste novo modo de vida ele não tem preconceitos e nem barreiras a vencer. Porque na arte ele tem liberdade para tudo. “A arte é revolução”. É a possibilidade de mostrar ao espectador que ele tem condições de modificar a sua condição humana e social.

EU ME LEMBRO E NÃO ESQUEÇO FILMES DESTA DÉCADA COMO:

pretty baby de louis malle (1978), uma mulher descasada de paul mazursky (1978), a garota do adeus de hebert ross (1977), o pequeno grande homem de arthur penn (1970), amargo pesadelo de jonh boorman (1972), a última sessão de cinema de peter bogdanovich (1971), o poderoso chefão de francis ford coppola (1972), o franco atirador de michael cimino (1978), liberdade condicional de ulu grosbard (1978), sérpico de sidney lumet (1973), lenny de bob fosse (1974), norma rae de martin ritt (1979), justiça para todos de norman jewison (1979), o expresso da meia noite de allan park (1978),
carie a estranha de brian de palma (1970), os embalos de sábado à noite de jonh badham (1977), cabaret de bob fosse (1972), um estranho no ninho de milos forman (1975), operação frança de willian friedkin (1971), um golpe de mestre de george hoyhill (1973), rocky um lutador de jonh g. avildsen (1976),

taxi driver de martin scorcese (1978), noivo nervoso noiva neurótica de woody allen (1977), kramer vs kramer de robert benton (1979), um dia de cão de sidney lumet (1975), american graffiti de george lucas (1973), shampoo de hal ashby (1975), new york new york de martin scorcese (1977), a maratona da morte de jonh schlesinger (1976), todos os homens do presidente de alan j. pakula (1976), o exorcista de willian friedkin (1973), guerra nas estrelas de george lucas (1977),  contatos imediatos do terceiro grau de steven spielberg (1977),  tommy de ken russell (1975), hair de milos forman (1979), nashville de robert altman (1975), apocalypse now de francis ford coppola (1979), amargo regresso de hal ashby (1978),  a trama de alan j. pakula (1974), laranja mecânica de stanley kubrick (1971), um estranho no ninho de milos  forman (1975), harold e maude  de hal ashby (1971), a profecia de richard donner (1976),  
all that jazz de bob fosse (1979), alien o oitavo passageiro de ridley scott (1979), desejo de matar de michael winner (1974),  love history de arthur hiller (1970),

alice não mora mais aqui de martin scorcese (1974), tubarão de steven spielberg (1975), noite de horror de jonh carpenter (1978), grease nos tempos da brilhantina de  randall kleiser (1978), rede de intrigas de sidney lumet (1976), o candidato de michael ritchie (1972), o grande gatsby de  jack clayton (1974), julia de fred zinnemann (1977),  o campeão de  franco zefirelli (1979), barrry lyndon de stanley kubrick (1975),  inferno na torre de jonh guilhermin (1973),  chinatown de roman polanski (1974), nosso amor de ontem de sidney pollack (1973), muito além do jardim de hal ashby (1975), lua de papel de peter bogdanovich (1973),  aeroporto de jack  smight (1974), superman de richard donner (1978).


Conhecendo os anos 70:
“A meia luz. Cinema e sexualidade nos anos 70”. Paulo Menezes. Editora 34. São Paulo. 2001.
“Almanaque anos 70”. Ana Maria Bahiana. Editora Ediouro. São Paulo. 2006.
“Lo mejor del cine de los 70”. Jurguer Miller. Editora Taschen do Brasil.  2006.
“Anos 70 – Enquanto corria a barca”. Lucy Dias. Editora SENAC. São Paulo. 2003.
“O Legado dos anos 60-70”. Ligia Canongia. Editora Zahar. São Paulo. 2005.
“O cinema brasileiro nos anos 70”. Guido Bilharinho. Editora ITC. São Paulo. 2007.





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