quinta-feira, 29 de maio de 2014

Atores Plurais


“(...)O uso de sí a qualquer custo, o autoconhecimento, a confiança que um diretor e um ator  tem de desenvolver um no outro, a devoção a um texto(marlon brando nunca questionou a palavra), a dedicação ao trabalho e arte. São experiências como estas que me fazem amar os atores.”
Sidney Lumet – Fazendo Filmes Pag.74


Autorevelação é o que se exige de um ator. Autorevelação é soltar-se, abrir-se, se desnudar, se revelar, abrir  sua alma para sensações e sentimentos. Entrega e doação total é a única maneira que o ator tem de encontrar seu personagem fictício, chegar ao mundo imaginário. Explorando dentro de sí mesmo, se autorevelando, a sua experiência de vida. Ao se disfarçar, o ator acaba por se revelar, as virtualidades, os vícios e os defeitos humanos. Saindo de sí, através da identificação com o outro, o ator acaba por se tornar um outro ser humano.



Na verdade não existe um modelo humano a se apoiar para criar uma outra pessoa, o único material com que os atores podem contar para criar uma outra vida está nas experiências de sua própria vida. A unica forma de viver intensamente o seu personagem é explorar o próprio material humanoO texto dramático sugere pela leitura, pelas palavras uma rápida projeção do que é o mundo imaginário que habita um personagem. A materialização deste universo humano, destes elementos psicofísicos só podem se concretizar pela encenação e pela pessoa do ator. O mundo só pode ser revelado pela figura do ator. Dizem os psicólogos que são três os elementos que estruturam o caráter de uma pessoa:o aspecto físico,social e o psicológico. O último para mim é o mais importante, embora este aspecto seja o resultado dos outros dois.







Encaro a autorevelação como um desafio e uma predisposição do ator  no sentido de que ao se distanciar de sí mesmo, ao conquistar sua autoconsciência, é que ele  conseguirá dar forma à sua atuação. E a partir daí ele pode de acordo com sua natureza e técnica  empregar  todos os meios que achar necessário  para materializar este ser de carne e osso, desde trajes, maquiagem, a tiques, gestos, gostos para chegar ao material humano e interior.






Eu também amo os atores, e parte do sucesso de um projeto depende principalmente da presença deles. Recentemente estou acompanhando o trabalho de alguns artistas brasileiros e estrangeiros que me inspiram, que são referências para mim e  que estão me ajudando com o seu trabalho em cinema, a entender melhor como um ator deve se preparar física e psicológicamente para atuar neste formato. São eles: Rejane Arruda,  Alice Braga, Gabriela Duarte, Débora Falabela, Julia Lemmertz, Selton Mello, Lola Dueñas, Sarah Polley, Isabelle Furhman, Javier Camara, Daniel Bruhl, Elizabeth Moss, Marisa Paredes e  Liv Ullman. Exemplos de  artistas dedicados, apaixonados pela sua arte, que se atiram de cabeça em seus projetos, que se desafiam e ousam. São artistas, atores e atrizes que admiro e que estão influenciando muito o meu trabalho de atriz, no sentido de que com seus exemplos e trajetórias artísticas, ao vê-los atuar, assistir suas entrevistas  e acompanhar a carreira de cada um me sinto estimulada e motivada a estudar continuamente para evoluir como atriz e expandir meu campo de atuação.
















“Profundidade em tudo o que se quer comunicar”












Na ficha de cadastro de algumas agências de atores, tenho encontrado a seguinte pergunta: você teria resistência em mudar sua aparência? Minha resposta é sempre a mesma: não. Para mim mudar a aparência para viver um personagem sempre encarei como um desafio. Mas acredito que deve ser realmente necessário para o personagem no projeto. Não basta só a caracterização física do papel, o trabalho com a aparência do personagem deve ser realmente fundamental não só para caracterizá-lo  como também deve ajudar o ator a encontrar seu material humano.  Encontrado este material o ator poderá então explorar suas nuances e fazê-lo crescer, evoluir durante sua jornada na trama.


Cada ator tem sua maneira de construir seu papel. Alguns  o fazem de dentro para fora, outros o oposto. A verdade é que a maioria dos atores atua como sí mesmo, usando sua experiência de vida. Buscando não só o entendimento do texto, seguindo as orientações do diretor, mas buscando semelhanças entre sua vida e a da ficção para criar e dar forma a uma nova vida humana. A inspiração está no ato de contracenar, envolve comunhão com os outros atores, está no envolvimento com o trabalho recebendo a orientação do diretor.



Sempre associei a profissão de ator a um trabalho de entrega, sacrifício e doação. Por este motivo não acho que seja loucura ou um exagero quando um ator ou uma atriz tenha que se sacrificar “fisicamente” para criar a aparência que acredita ser a mais próxima de seu personagem. Sempre que o ator se enlvove em um projeto artístico, não importa se é um filme, uma peça de teatro, uma websérie, um musical, uma novela,  ele sabe que vai ter que aprender sempre algo novo relacionado ao mundo de seu personagem.  Depois de ter se nutrido do material ficticio, ele vai tornar este material mais concreto  pela própria experiência unindo o intelecto e o emocional para construir esta figura humana. Penso que passar por uma grande transformação física para revestir um personagem com grande dose de humanidade, não é só um desafio para um ator, é também uma prova de amor incondicional pela sua profissão. Trata-se de se anular para fazer emergir uma outra pessoa. Um outro ser. Há 21 anos não corto o meu cabelo, aparo apenas as pontas. Por um projeto interessante e um personagem desafiador até ficaria careca.



Com ou sem o uso de uma caracterização física acentuada, que exige o uso de próteses, perucas ou cortes de cabelo, dietas ou ganhos de peso para dar vida e consistência a um personagem, o ator deve principalmente se deixar contaminar e influenciar instintivamente pelo seu personagem e pelo seu universo para vivencia-lo realmente.





Os artistas que se desafiam nesta metamorfose me contagiam com seu profissionalismo, disciplina, dedicação, preparo  e amor pela arte da interpretação. Assistindo suas atuações viscerais, sempre me sinto estimulada, encorajada a me desafiar, me abrir de coração e alma para novas “propostas e possibilidades de atuação.
Me lembro de muitas atuações viscerais, em que os atores e atrizes “desnudaram  sua alma”, se despojaram totalmente de sua vaidade e ego para viver outra vida, para assumirem viver uma outra pessoa, um outro ser humano sem medos, receios, ou preconceitos. Se autorevelaram para se entregarem de corpo e  alma para viver o personagem nas condições de vida sugeridas pela ficção.










Entre estas atuações surpreendentes e mágicas posso citar: jonh mills (a filha de ryan), nicole kidman (as horas), toni collete (o casamento de muriel), hilary swank (meninos não choram), javier bardem (onde os fracos não tem vez) ,cate blanchet (não estou lá), kelly mcdonald (em busca da terra do nunca), benicio del toro (che), monique (preciosa), al pacino (serpico), ben kingsley (gandhi), sally field (norma rae), mia farrow (o bebe de rosemary), ann hathaway (os miseráveis), julie andrews (victor ou vitória) ,leonardo di caprio (J, edgar), jeremie renier (o silêncio de lorna), penelope cruz (não se mova), cillian murthy (café da manha em plutão, extermínio), ewan mcgregor (trainspotting), robert de niro (taxi driver, coração satânico, o touro indomável), marlon brando (o poderoso chefão), christian bale  (o operário), glen close (albert nobbs, a casa dos espiritos), vanessa redgrave (jogo perigoso), willian hurt (o beijo da mulher aranha), linda hunt (o ano em que vivemos em perigo), jim caviezel (a paixão de cristo), ralph fiennes (o morro dos ventos uivantes),dustin hoffman (tootsie, perdidos na noite), rodrigo santoro (bicho de 7 cabeças, 300), natalie portman (vingança, sombras de goya), matt damon (o desinformante) ,tom hanks (naufrago), charlize theron (monster),  matthew mcconaughey e jared leto (clube de compra dallas), ray milland (farrapo humano), demi moore (g.i. jane) e alice braga (cidade baixa).

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