terça-feira, 6 de dezembro de 2011

“Brecht no cinema”


Eu assisti o documentário BRECHT NO CINEMA até agora treze vezes. E a cada vez que o assisto, uma nova leitura é realizada. Confesso também que ainda estou comovida, perplexa e atordoada com a grandeza desta obra. Eu que só conhecia sua produção cênica de fotos, das montagens que assisti, e de peças que li, me sinto premiada por conhecer um pouco melhor deste grande autor e dramaturgo alemão, graças a este documentário lançado em dvd pela versátil.

Dos filmes adaptados de seus textos para o cinema, fiquei muito impressionada e fascinada com KUHLE WAMPE (1932). O filme mostra o suícidio de um rapaz desempregado, que constrangido em não ajudar no sustento da casa, se atira pela janela. Um marco do cinema político-social.
Gostei muito dos documentários A vida de Berthold Brecht e Visões de Brecht que falam de sua vida e carreira. Há no disco depoimentos de familiares, amigos e estudiosos de sua obra na Alemanha e no Brasil.

Fascinante mesmo é constatar como uma obra teatral reinvidica à liberdade e à igualdade para as classes trabalhadoras. Acompanhar a trajetória de um homem que com seu teatro aspirava a um mundo melhor, a favor das justiças sociais e do proletariado. Além do poder existe o homem. É esta a máxima de Brecht. Há dominação de classes, existe a engrenagem do sistema que oprime, sufoca e aterroriza o homem, mas o elo que liga a humanidade é mais forte.
“Bertholt Brecht no cinema” é uma obra documental densa, forte e essencial. Rica em pistas e temas muito esclarecedores e relevantes a serem aprofundados pelo público e por artistas para entender e se apaixonar ainda mais por Brecht e seu teatro épico.



ASSISTIR:








Brecht e a humanização do homem


Comecei a ler sobre Berthold Brecht na década de 80, por causa dos escritos teóricos e ensaios críticos de Fernando Peixoto. Na época atuava em teatro amador. Os atores e diretores dos grupos teatrais que eu frequentava falavam muito de seu método de trabalho. Da militância de sua produção artística. E o achavam um revolucionário. Com a curiosidade despertada sobre este dramaturgo, comecei a ler as suas peças, os romances, depois os contos e os poemas dele.
Apaixonei-me por Brecht.
Por seu teatro político e engajado. E por suas idéias.
Apaixonei-me ainda mais pela obra do encenador e dramaturgo alemão nos anos 90 ao assistir as montagens brasileiras de grupos de teatro nacionais, nos quais imperava a criação coletiva. Foram montagens impecáveis inspiradas na estética e na temática proposta por Brecht.

Entre as montagens brasileiras que assisti, as mais criativas e cativantes pertencem a grupos de teatro brasileiro nos quais ainda imperam o trabalho colaborativo. Vou citar as montagens que mais me impressionaram desde os anos 90 até hoje, e que conseguiram estéticamente projetar em cena o teatro dialético e o projeto ideológico de Brecht:
1996 - Baal o mito da carne dirigida por Marcelo Fonseca.
1997- Ensaio do latão, montagem realizada por um dos grupos mais importantes da última década, a Cia do latão. Assisti do mesmo grupo Equivocos colecionados (2004), o mercado do goso (2003), auto dos bons tratos (2002) no teatro cacilda becker, e visões siamesas no teatro sesc anchieta. Recentemente assisti do mesmo grupo a montagem de Santa Joana dos Matadouros no teatro joão caetano. MA-RA-VI-LHO-SA.
2005 - Me lembro também da montagem Um homem é um homem do grupo Galpão com a direção do talentoso ator e diretor Paulo José. Assisti no mesmo ano A boa alma de set suan no teatro sérgio cardoso, montagem de Marcelo Fonseca  na Cia teatro do incêndio. E prestigiei também o mesmo texto A boa alma de set suan montagem da companhia oberson, lourdes e os mexicanos.

 2008 - Me lembro também da montagem Mãe coragem e seus filhos da Armazém companhia de teatro. No elenco estava a talentosa atriz Louise Cardoso.

Nota 1000 na minha opinião  foi mesmo a montagem “Mãe coragem e seus filhos” da Cia de arte degenerada, no teatro sesc anchieta com direção de Sergio Ferrara.  Nesta encenação estava a grande atriz Maria Alice Vergueiro. Uma atriz veterana e camaleônica, de grande versatilidade. Eu sou apaixonada pelo seu trabalho.
Independentemente das maneiras ou formas de montá-lo Brecht fascina, comove e incomoda. Não é por acaso que ele é considerado o principal escritor “antiburguês” do teatro europeu. E consequentemente foi o homem de teatro mais importante do século XX.  E eu acredito que ele será também neste século.  E os argumentos  são óbvios.
Brecht ainda dialoga com o mundo do século 21? Sim.  Uma vez que, seja no nível da dramaturgia, seja no nível da representação, seja pelo seu projeto ideológico (de recuperação da humanidade, principalmente do oprimido), a matéria prima do teatro brechtiniano são as relações humanas, do homem com o homem e do homem com a sociedade. A temática da obra de Brecht tem muito a ver com as lutas politícas neste século, porque são críticas a todas as relações de dominação, poder e controle do homem.  
A grande inovação trazida pelo teatro de Berthold Brecht foi ter rompido com a forma tradicional do teatro apoiado no naturalismo psicológico, na ilusão e na fantasia teatral. Ao elaborar um teatro pedagógico e dialético mais reflexivo e com enfoque na questão social, Brecht tornou o espectador mais lúcido e crítico diante dos acontecimentos históricos de seu tempo.  Fez o público acreditar que podia transformar a realidade.

E para que este projeto ideológico se concretizá-se, Brecht também enfatizou o significado artístico e social do trabalho do ator. Ele almejou um ator também lúcido e crítico diante dos acontecimentos históricos e sociais de seu tempo. Um ator com grande responsabilidade artística e social com a sua época, com a humanidade e a história de seu país, mas que também assumi-se  uma  posição moral e ideológica.
Brecht tem influenciado e muito o meu trabalho no campo das artes cênicas. Como ele eu não consigo separar produção artística de militância política. Não consigo acreditar que a função da arte seja apenas entreter, divertir e dissipar a monotonia do tempo.
Eu acredito em uma arte, em um teatro capaz de divertir, mas também instruir durante a magia da representação. Acredito em um teatro capaz de mudar o comportamento de um povo.