segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um final de cortar o coração

Sou uma atriz dramática. Este gosto pelo drama e paixão pelos conflitos humanos, acredito que vem do fato de gostar de peças teatrais e obras literárias que exploram como tema “a dimensão humana das pessoas”. Seus relacionamentos, como interagem e como modificam a vida umas das outras. Como convivendo coletivamente em vários ambientes e situações, exercitam a paciência, o controle, a tolerância, a perseverança e o amor tentando consertar suas falhas e se melhorar como seres humanos. Temas como família, honra, coragem, superação, fé, confiança, redenção, perdão, esperança, amor, a luta dos oprimidos, a luta contra os abusos sociais, direitos civis e humanos, valores e ideais, justiça e inclusão social, pessoas visionárias que modificam o próprio destino e perseverança para se enfrentar as adversidades no mundo são meus preferidos.

Na universidade li muita literatura brasileira. E aproveitei o acervo das bibliotecas das faculdades de letras e artes cênicas, para ter contato também com a literatura européia, inglesa e latino americana. Durante os seis anos que frequentei a universidade, aproveitei o tempo livre para ler a obra de alguns autores, romancistas e dramaturgos que ainda não conhecia como guy de maupassant, marcel proust, patricia highsmith, charles dickens, valle inclán, harold pinter, leillah assumpção, edy lima, carlos queiróz telles, graciliano ramos, marçal aquino, lewis carrol, mario vargas  llosa, rubem fonseca, fernando arrabal, manuel puig, adamov, sean o´casey, thornton wilder, ernest hemingway,  jules verner, jack london, georg buchner,  dalton trevisan, clarice lispector, jane austen, milton hatoum, louise mary alcott,  jean genet, victor hugo,  jonh steinbeck e pushikin. Foram leituras estimulantes que me fizeram comprender melhor o genero dramático, o conto, a novela, o romance e a ficção.

Gosto também de temas que envolvem “valores e princípios éticos e morais do individuo em conflito com o que é imposto pelo social” que limita sua maneira de ser, agir e pensar como ele quer e almeja. Neste aspecto, em minha opinião federico garcia lorca  e bertholt brecht são os grandes mestres.
Acredito que o “genero dramático” é o que mais dialoga com a realidade porque está muito centrado nas aflições humanas. É um genero que explora muito os dramas pessoais, criando muitos personagens verossímeis com os quais nos identificamos.  Gosto e aprecio muito o drama na literatura, no teatro ou no cinema por ser o genero que mais me permite ter contato com histórias e momentos próximos do cotidiano real” para aprender mais sobre a vida, pessoas e valores.

Por falar em drama, recentemente assisti “Preciosa”, “Biutiful”, “Segredos de família”, “Por uma vida melhor”, “Terras perdidas”, 
“Faz de conta que eu não estou aqui” e “Há tanto tempo que eu te amo”. Estes filmes mostram que são realmente muito complexas as relações em família. Principalmente, quando os conflitos envolvem diferenças entre gerações, rivalidades de amor, ambição, perdas, brigas, agressões, repressão e poder nos papéis familiares. Não sei se vão concordar comigo, mas já perceberam que nas últimas décadas, a instituição que mais tem sido questionada no cinema é “a família”. A relação entre pais e filhos, embora pareça um tema banal, tem se escrito muito sobre ela na ficção.  Apesar da aparente diversidade de temas e personagens nos enredos, e lugares onde se passam as estórias, percebemos que é em torno de um núcleo familiar que se desenvolvem a maioria dos conflitos e crises. E não só porque a famíla reproduz as relações de poder do sistema econômico, do mundo burguês.

Mas porque se pensarmos em termos de drama e experiência coletiva, filmar histórias sobre os laços afetivos, principalmente entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos e irmãs, ex-casais, madrastas ou padrastos e seus enteados, tem possibilitado aos roteiristas criar histórias originais que tem questionado hábitos, costumes e modos de pensar e agir tradicionais, ultrapassados da sociedade que persistem até hoje. Valores que necessitam serem transformados radicalmente para melhorar os indivíduos como seres humanos.

Conscientes de que a luta diária pela sobrevivência e os compromissos sociais tem disperçado cada vez mais os membros familiares, os roteiristas com sua imaginação criadora inspirada em uma genuína “consciência social”, impregnam as histórias com temas como casamentos em crise, traição, abandono de lar, divórcios, separações, violência doméstica, poder, pedofilia, hipocrisia, rebeldia juvenil, conflitos de interesse, solidão, culpas, insegurança social, relacionamentos na meia idade e abuso sexual.
O mundo está muito confuso, disperso, violento, individualista, competitivo e cheio de futilidades. As más tendências do ser humano como sua ambição excessiva, sua vaidade, seu egoísmo, seus vícios e seus preconceitos impedem que a sociedade funcione de maneira sadia. Acredito que a “convivência familiar” pode contribuir para esta transformação social, na medida em que educar seus membros para serem pessoas responsáveis e generosas, capazes de construir uma sociedade de base humanitária não mais baseada na exploração, no poder do dinheiro, na repressão e no autoritarismo. Mas transformar a sociedade pelo exercício do amor, da educação, da fé e pelo respeito ao próximo.
Posso dizer que gostei e aprendi muito com estes filmes. Seus diretores souberam valorizar muito bem os diálogos, os silêncios, a interpretação dos atores e atrizes, e principalmente “os espaços da encenação”, que em determinadas cenas mostravam o que se passava no íntimo das personagens. São filmes muito bem realizados com interpretações fortes e humanas. Os artistas foram muito generosos com seus personagens. Porque conseguiram com  suas atuações sinceras e viscerais, mostrar que apesar dos “dramas e crises dentro da família”, ela ainda é uma instituição forte, pois representa o espaço seguro, no qual seus membros ainda podem dividir seus bens, sonhos, rancores, segredos, alegrias, tristezas e se aperfeiçoarem como seres humanos para viver em harmonia e em sociedade.

Filmes sobre conflitos e relações familiares:

gente como a gente, depois do casamento, o quarto do filho, as leis da família, o primeiro que disse, o segredo do grão, a noiva síria, padre padrone, caos calmo, a pianista, paradise now, sonata de tókio, há tanto tempo que te amo, menina santa, fora da lei, ondas da paixão, três macacos, toda forma de amor, ao entardecer, o rei, propriedade privada, segredos e mentiras, meu pai uma lição de vida, cenas de um casamento, requiem para um sonho, até o fim, negócios de família, esta mulher é proibida, segunda pele, interiores, a flor do meu segredo, o psicólogo, a criança, faz de conta que eu não estou aqui, destinos cruzados, quando me apaixono, a lula e a baleia, a viagem, uma mulher sob influência, o casamento do meu ex, o que eu fiz para merecer isto, segunda feira ao sol, sonhando acordado, mar adentro,  transamérica, beleza americana, spider, mamãe é de morte, pecados íntimos, gilbert grape aprendiz de feitiçeiro, decálogo, o garoto da bicicleta, o peso da água, noites de tormenta, as virgens suicídas, voltar a morrer, caminhos violentos,  encurralada, quem tem medo de virginia woolf,  intersection uma escolha uma renúncia, rainhas, palavras de amor, caminhos da traição, bons costumes, precisamos falar sobre o kevin, a última ceia, quando foi que você viu seu pai pela última vez, juntos pelo acaso, o sonho de cassandra, hannah e suas irmãs, o pântano, a cor púrpura, a corrente do bem,
 o último suspeito,  invasão de privacidade, notas sobre um escândalo,  as idades de lulu, alice,  as pontes de madson, ela é o diabo,  os vigaristas, a casa dos espíritos, rocco e seus irmãos, medo, a casa de alice, a partilha, nossa vida não cabe num opala, o signo da cidade, feliz natal, contra todos, lavoura arcaica,  linha de passe,  à deriva, viva voz, a dona da história, desmundo, o ano em que meus pais sairam de férias, não por acaso, amores possíveis, muito gelo e dois dedos de água, baixio das bestas, se eu fosse você, a grande família, o caminho das nuvens, estranho amor, pai patrão, em nome do pai, império da paixão, esposamente, os boas vidas, na estrada da vida, amor e sedução, o  clube da felicidade e da sorte, a história de qui ju tempos de viver,  gran torino, sobre meninos e lobos, a força do destino, a separação, 21 gramas, tempestade de gelo, o segredo de brokeback mountain, billy elliot, crimes do coração,  uma lição de amor, coisas que perdemos pelo caminho,adivinhe quem vem para jantar, o império dos sentidos,  anticristo, flores partidas, quando o amor é cruel, mamma roma , eu meu irmão e nossa namorada, o sol tornará a brilhar, volver, tudo sobre minha mãe, amores brutos, frances, um ato de coragem, as horas, o que terá acontecido a baby jane, antes só do que mal casado, fim de caso, o último rei da escócia, as invasões bárbaras, o tempo de cada um, o despertar de uma paixão, acho que amo minha mulher,  quatro casamentos e um funeral, o jornal, instinto de vingança,a razão de meu afeto, ela vai ter um bebê,  meu trabalho é um parto,  harry e sally feitos um para o outro, em seu lugar, o poderoso chefão, forças do destino, o gosto dos outros, olhar de anjo, o grão, manhattan, tabu e 4 semanas  3 meses e 2 dias.
Leituras:
“Lições que a vida oferece”. Romance Mediúnico Psicografado por Eliana Machado Coelho.  Lumen Editorial. São Paulo. 2009.
“O que é Ficção”. Ivete Lara Camargos Walty. Editora Brasiliense. São Paulo.1986.
“ 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira”. Organização e prefácio de Luiz Ruffato. Com contos de Tatiana Salem Levy, Lívia Garcia Rosa, Nilza Resende, Cecília Costa, Heloísa Seixas, Cíntia Moscovich e outras. Editora Record. São Paulo. 2004.

“Teoria do Drama Moderno”. Peter Szondi. Editora Cosac Naify. 2ª. Edição. São Paulo. 2011.

“Léxico do Drama Moderno e Contemporâneo”. Jean Pierre Sarrazac. Editora Cosac Naify. 1ª. Edição. São Paulo. 2012.
“Drama em cena”. Raymond Willians. Tradução de Rogério Bettoni. Editora Cosac Naify. 1ª. Edição. São Paulo. 2010.
“Cinema em código. Histórias para filmar”. Alexandre Lydia. Ima Editorial. 1ª. Edição.  2012.