domingo, 20 de novembro de 2011

O ator empreendedor

Houve um tempo que bastava a um ator atuar, apenas interpretar o seu papel. Foi na época em que predominou a figura do encenador como criador absoluto do espetáculo.  Ao encenador como “criador e autor da cena” foi conferida a função de transformar o texto escrito em imagens, transformar os signos verbais e não verbais em uma grande partitura cênica. Ele tinha a autoridade, a experiência e o conhecimento para fazer a mediação entre o texto e a representação. Organizar e ordenar estruturalmente os elementos textuais em um espetáculo teatral.  E o ator era apenas mais um dos elementos cênicos que o encenador mobilizava  junto ao espaço,  cenários , figurinos,  música, acessórios  para materializar o texto verbal em representação no palco.

Graças ao teatro de grupo (coletivos teatrais) que começou em meados da década de 90, o reinado do encenador e do primeiro ator acabou. Vivemos um momento de fertilidade criativa em que é o coletivo de atores/artistas que cria o espetáculo, na sala de ensaios, fora dela, utilizando experimentações de linguagens, improvisações e autodireção. Como os trabalhos artísticos nascem dentro do grupo, dentro de um coletivo de artistas, quanto mais funções o ator decidir desempenhar na criação da cena, mais preparo e conhecimento será exigido dele, pois ele escreve, produz, dirige, monta os cenários, cria os figurinos e atua nos  próprios espetáculos.
O ator ultrapassa então a função de intérprete e abraça várias funções no fazer teatral, desde a dramaturgia, produção, sonoplastia, iluminação, a concepção de cenários e figurinos. Além de suas capacidades corporais, o  ator  sabe e tem consciência de que o  êxito e estabilidade do grupo vai depender também de sua capacidade de liderança,  comunicação e  gestão de pessoas.
Com o avanço tecnológico e vivendo hoje em uma cultura digital e globalizada, o ator passou a ter um perfil polivalente.  O ator é um profissional multitarefa.  Até nas atividades artísticas já existe a “job rotation” (rodízio de funções). Como no mundo corporativo, o ator não é mais individualista, e tem consciência de que não será  bem sucedido só pela sua capacidade de comunicação e de expressão.  Ele sabe que sua vitória  depende  do trabalho em equipe. Sabe que para alcançar o sucesso terá de empreender. Ser pró-ativo, ter iniciativa, e se atualizar constantemente.  Entender de mídias, dominar ferramentas e programas de computador para ampliar ainda mais suas possibilidades profissionais.  Como usuário de internet precisará se manter atualizado com todas as formas de interatividade na rede como blogs, orkut, twitter, e-mails, intranet para construir uma boa rede de relacionamentos (networking) e ampliar ainda mais suas possibilidades de trabalhos na área artística.
O ator no século 21 tem que ter responsabilidade, ética, ambição, personalidade e integridade. Tem que ser criativo, irreverente, se dasafiar, se engajar e se motivar nos mais diferentes ambientes de trabalho, e acreditar no seu potencial para alcançar seus objetivos.
O ator que quer trabalhar com regularidade, não espera oportunidades de trabalho. Ele cria as  suas oportunidades.  As coloca em prática.  Muitos artistas tem trabalhado como  produtores independentes, em projetos pessoais, lecionando, realizando figurações, produzindo seus próprios trabalhos. Eu também passei a produzir meus próprios projetos por falta de recursos. E para ter liberdade artística, falar o que é importante e urgente.
O jovem ator ainda desconhecido no mercado artístico terá que trabalhar em seu grupo com vontade, garra, determinação, motivação e profissionalismo para atingir o amadurecimento profissional e alcançar visibilidade para o seu trabalho e seu coletivo.

O ator que quer ser bem sucedido em sua carreira terá que ter a postura de um empreendedor. Sendo o teatro uma atividade essencialmente prática, deverá o ator estar aberto e disponível para aprender e se aperfeiçoar mais e mais em sua área de atuação (seja teatro, dança, cinema, fotografia, artes plásticas, música, canto), não parar nunca de estudar, frequentar cursos, oficinas e workshops. O ator empreendedor terá que investir em seu aprimoramento pessoal e profissional, e manter-se atualizado perante ás inovações e exigências do mercado artístico. Se desejar trabalhar em musicais, terá de investir em cursos de canto e dança. Se desejar trabalhar com audiovisual terá de investir em cursos de atuação  e formação para cinema.
Dentro de um trabalho de produção coletiva, o ator empreendedor terá de ser principalmente corajoso para encarar suas limitações, procurar ampliá-las e fortalecê-las.  Deverá enfrentar seus medos e os preconceitos que venha a ter em um trabalho e se desafiar a superá-los.  Terá de vencer suas limitações físicas ou quaisquers outras que possam atrapalhar e comprometer sua tarefa de realizar seu trabalho com qualidade. Sozinho ou em equipe/grupo.
Hoje, não dá para ser mais um especialista. Ter foco só em uma atividade.  Um só interesse. É preciso conhecer e fazer um pouco de tudo. Transformar informação em conhecimento. Ter uma cultura geral. Ser versátil e criativo , e ter atitude para viver no mundo globalizado. Sem uma visão arrojada da importância do seu trabalho, o ator que não investir em seu preparo e aprimoramento cultural vai ficar para trás.
Assim sendo, a primeira tarefa a realizar é aprofundar os seus conhecimentos e experiências. Não só no que diz respeito ao cotidiano, á vida, mas estar conectado com as coisas que acontecem no mundo para saber divertir e ao mesmo tempo instruir para judar a transformar a realidade.

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