(...)Educadores, onde estarão?Em que covas terão se
escondido?Professores há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo
que se define por dentro, por amor.Educador, ao contrário, não é profissão; é
vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.
(...) Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um
nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a
relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade” sui
generis, portador de um nome, também de uma estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a
educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece
a dois. Espaço artesanal. Mas professores são habitantes de um mundo diferente onde o educador pouco importa,
pois o que interessa é um "crédito cultural” que o aluno adquire em uma
disciplina identificada por uma sigla, sendo que para fins institucionais
nenhuma diferença faz aquele que a ministra(...).
É isto que eu quero dizer ao afirmar que o nicho
ecológico mudou.O Educador, pelo menos o ideal que minha imaginação constrói,
habita um mundo em que a interioridade faz a diferença, em que as pessoas
se definem por suas visões, paixões,
esperanças e horizontes utópicos. O professor, ao contrário, é funcionário de
um mundo dominado pelo estado e pelas empresas. É uma entidade , gerenciada,
administrada segundo a sua excelência
funcional, excelência esta que é sempre julgada a partir de interesses o
sistema(...).
(...)Por que nos tornamos animais domésticos? Porque
nos esquecemos de nossos sonhos? Que ato
de feitiço fez adormecer o educador que vivia em nós?
E que recuperemos a coragem de falar na primeira
pessoa, dizendo com honestidade o que vimos, ouvimos e pensamos. Escrever
biograficamente sem vergonha.
Conversas com quem
gosta de ensinar.Rubem Alves.Coleção Polêmicas do nosso tempo.Editora
Cortez.São Paulo.1985.