“(...)O uso de sí a qualquer custo, o autoconhecimento, a confiança que
um diretor e um ator tem de desenvolver
um no outro, a devoção a um texto(marlon brando nunca questionou a palavra), a
dedicação ao trabalho e arte. São experiências como estas que me fazem amar os
atores.”
Sidney Lumet – Fazendo Filmes
Pag.74
Autorevelação é o que se exige de um ator. Autorevelação é soltar-se,
abrir-se, se desnudar, se revelar, abrir
sua alma para sensações e sentimentos. Entrega e doação total é a única
maneira que o ator tem de encontrar seu personagem fictício, chegar ao mundo
imaginário. Explorando dentro de sí mesmo, se autorevelando, a sua experiência
de vida. Ao se disfarçar, o ator acaba por se revelar, as virtualidades, os
vícios e os defeitos humanos. Saindo de sí, através da identificação com o
outro, o ator acaba por se tornar um outro ser humano.
Na verdade não existe um modelo humano a se apoiar para criar uma outra
pessoa, o único material com que os atores podem contar para criar
uma outra vida está nas experiências de sua própria vida. A unica
forma de viver intensamente o seu personagem é explorar o próprio material
humano. O texto dramático sugere pela leitura, pelas palavras uma rápida
projeção do que é o mundo imaginário que habita um personagem. A materialização
deste universo humano, destes elementos psicofísicos só podem se concretizar
pela encenação e pela pessoa do ator. O mundo só pode ser revelado pela figura
do ator. Dizem os psicólogos que são três os elementos que estruturam o caráter
de uma pessoa:o aspecto físico,social e o psicológico. O último para mim é o
mais importante, embora este aspecto seja o resultado dos outros dois.
Encaro a autorevelação como um desafio e uma predisposição do ator no sentido de que ao se distanciar de sí
mesmo, ao conquistar sua autoconsciência, é que ele conseguirá dar forma à sua atuação. E a
partir daí ele pode de acordo com sua natureza e técnica empregar
todos os meios que achar necessário para materializar este ser de carne e osso,
desde trajes, maquiagem, a tiques, gestos, gostos para chegar ao material
humano e interior.
Eu também amo os atores, e parte do sucesso de um projeto depende
principalmente da presença deles. Recentemente estou acompanhando o trabalho de
alguns artistas brasileiros e estrangeiros que me inspiram, que são referências
para mim e que estão me ajudando com o seu
trabalho em cinema, a entender melhor como um ator deve se preparar física e
psicológicamente para atuar neste formato. São eles: Rejane Arruda, Alice Braga, Gabriela Duarte, Débora
Falabela, Julia Lemmertz, Selton Mello, Lola Dueñas, Sarah Polley, Isabelle
Furhman, Javier Camara, Daniel Bruhl, Elizabeth Moss, Marisa Paredes e Liv Ullman. Exemplos de artistas dedicados, apaixonados pela sua arte,
que se atiram de cabeça em seus projetos, que se desafiam e ousam. São
artistas, atores e atrizes que admiro e que estão influenciando muito o meu
trabalho de atriz, no sentido de que com seus exemplos e trajetórias
artísticas, ao vê-los atuar, assistir suas entrevistas e acompanhar a carreira
de cada um me sinto estimulada e motivada a estudar continuamente para evoluir como atriz e expandir meu campo de atuação.
Na ficha de cadastro de algumas agências de atores, tenho encontrado a
seguinte pergunta: você teria
resistência em mudar sua aparência? Minha resposta é sempre a mesma: não.
Para mim mudar a aparência para viver um personagem sempre encarei como um
desafio. Mas acredito que deve ser realmente necessário para o personagem no
projeto. Não basta só a
caracterização física do papel, o trabalho com a aparência do personagem deve
ser realmente fundamental não só para caracterizá-lo como também deve ajudar o ator a encontrar seu material humano. Encontrado este material o ator poderá então
explorar suas nuances e fazê-lo crescer, evoluir durante sua jornada na trama.
Cada ator tem sua maneira de construir seu papel. Alguns o fazem de dentro para fora, outros o oposto.
A
verdade é que a maioria dos atores atua como sí mesmo, usando sua experiência
de vida. Buscando não só o entendimento do texto, seguindo as
orientações do diretor, mas buscando semelhanças entre sua vida e a da ficção
para criar e dar forma a uma nova vida humana. A inspiração está no ato de
contracenar, envolve comunhão com os outros atores, está no envolvimento com o
trabalho recebendo a orientação do diretor.
Sempre associei a profissão de ator a um trabalho de entrega, sacrifício e doação. Por este motivo não acho que seja loucura ou um exagero quando um ator ou uma atriz tenha que se sacrificar “fisicamente” para criar a aparência que acredita ser a mais próxima de seu personagem. Sempre que o ator se enlvove em um projeto artístico, não importa se é um filme, uma peça de teatro, uma websérie, um musical, uma novela, ele sabe que vai ter que aprender sempre algo novo relacionado ao mundo de seu personagem. Depois de ter se nutrido do material ficticio, ele vai tornar este material mais concreto pela própria experiência unindo o intelecto e o emocional para construir esta figura humana. Penso que passar por uma grande transformação física para revestir um personagem com grande dose de humanidade, não é só um desafio para um ator, é também uma prova de amor incondicional pela sua profissão. Trata-se de se anular para fazer emergir uma outra pessoa. Um outro ser. Há 21 anos não corto o meu cabelo, aparo apenas as pontas. Por um projeto interessante e um personagem desafiador até ficaria careca.
Com ou sem o uso de uma caracterização física acentuada, que exige o uso de
próteses, perucas ou cortes de cabelo, dietas ou ganhos de peso para dar vida
e consistência a um personagem, o ator deve principalmente se deixar contaminar
e influenciar instintivamente pelo seu personagem e pelo seu universo para
vivencia-lo realmente.
Os artistas que se desafiam nesta metamorfose me contagiam com seu
profissionalismo, disciplina, dedicação, preparo e amor pela arte da interpretação. Assistindo
suas atuações viscerais, sempre me sinto estimulada, encorajada a me desafiar,
me abrir de coração e alma para novas “propostas e possibilidades de atuação.
Me lembro de muitas atuações viscerais, em que os atores e atrizes “desnudaram sua alma”, se despojaram totalmente de sua vaidade e ego para viver outra vida,
para assumirem viver uma outra pessoa, um outro ser humano sem medos, receios,
ou preconceitos. Se autorevelaram para se entregarem de corpo e alma para viver o personagem nas condições de
vida sugeridas pela ficção.
Entre estas atuações
surpreendentes e mágicas posso citar: jonh mills (a filha de ryan), nicole kidman (as horas), toni collete (o
casamento de muriel), hilary swank (meninos não choram), javier bardem (onde os
fracos não tem vez) ,cate blanchet (não estou lá), kelly mcdonald (em busca da
terra do nunca), benicio del toro (che), monique (preciosa), al pacino (serpico), ben kingsley (gandhi), sally field (norma rae), mia farrow (o bebe de rosemary),
ann hathaway (os miseráveis), julie andrews (victor ou vitória) ,leonardo di
caprio (J, edgar), jeremie renier (o silêncio de lorna), penelope cruz (não se mova), cillian
murthy (café da manha em plutão, extermínio), ewan
mcgregor (trainspotting), robert de niro (taxi driver, coração satânico, o touro
indomável), marlon brando (o poderoso chefão), christian bale (o operário), glen close (albert nobbs, a casa dos espiritos), vanessa redgrave (jogo perigoso), willian
hurt (o beijo da mulher aranha), linda hunt (o ano em que vivemos em perigo), jim
caviezel (a paixão de cristo), ralph fiennes (o morro dos ventos uivantes),dustin
hoffman (tootsie, perdidos na noite), rodrigo santoro (bicho de 7 cabeças,
300), natalie portman (vingança, sombras de goya), matt damon (o
desinformante) ,tom hanks (naufrago), charlize theron (monster), matthew mcconaughey e jared leto (clube de
compra dallas), ray milland (farrapo humano), demi moore (g.i. jane) e alice braga (cidade baixa).
Assistir:
Sugestão de Leitura: